Série: Mecanismos de Defesa — Racionalização

Quando a razão vira um escudo

Você já tentou justificar algo que fez, mesmo sabendo — lá no fundo — que a verdadeira razão era outra?
Na psicanálise, esse movimento recebe o nome de racionalização, um dos mecanismos de defesa mais sofisticados da mente humana.

A racionalização é uma forma inconsciente de proteção do ego.
Ela acontece quando criamos explicações lógicas e aparentemente coerentes para disfarçar emoções, desejos ou impulsos que nos causariam desconforto se fossem reconhecidos.
Em outras palavras, é quando a mente tenta “dar sentido” a algo que, na verdade, é movido pelo inconsciente.

Exemplos do cotidiano

Uma pessoa que não foi promovida pode dizer:
“Ah, aquele cargo daria muito trabalho mesmo.”
Mas, no inconsciente, o que existe é frustração ou inveja.

Alguém que terminou um relacionamento pode afirmar:
“Foi melhor assim, eu precisava de tempo pra mim.”
Quando, na verdade, o que sente é dor pela rejeição.

Essas justificativas não são mentiras conscientes — são formas de defesa que o psiquismo utiliza para aliviar o conflito interno entre o que se sente e o que se acredita ser certo.

A função e o risco da racionalização

De um lado, a racionalização protege.
Ela impede que sejamos tomados por emoções intensas e mantém um equilíbrio momentâneo.
Mas, por outro lado, nos afasta da verdade emocional, dificultando o contato com nossos desejos e vulnerabilidades.

Na clínica psicanalítica, o trabalho é revelar o sentido oculto dessas explicações — ajudar o sujeito a escutar o que está por trás do discurso lógico.
Ao reconhecer o que realmente sentimos, abrimos espaço para uma relação mais autêntica com nós mesmos.

A psicanálise como caminho de escuta

Reconhecer a racionalização não significa eliminá-la.
Ela tem um papel importante na manutenção do equilíbrio psíquico.
Mas o autoconhecimento começa quando conseguimos olhar para além das justificativas e perguntar:

“O que realmente me afetou nessa situação?”
“O que estou tentando não sentir?”

Essas perguntas são convites à escuta do inconsciente — o território onde habitam nossas verdades mais profundas.

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