Há uma solidão que dói — e outra que salva.
A primeira nasce quando perdemos o olhar do outro, quando o amor, o pertencimento e a escuta nos são retirados. É a solidão do desamparo, aquela que nos recorda a primeira experiência humana: a de chorar e não ser imediatamente acolhido.
Essa solidão fere, porque traz de volta o eco do nosso início — o instante em que descobrimos que o outro não nos completa, apenas nos toca por instantes.
Mas há também uma solidão necessária, a que permite o encontro consigo mesmo.
Freud diria que é nesse intervalo de silêncio, onde o ruído do mundo se cala, que o sujeito tem a chance de escutar algo de seu inconsciente.
Quando a presença do outro se retira, o que sobra é o espaço do desejo, esse vazio que nunca se preenche — e que justamente por isso nos move, nos faz criar, pensar, amar de novo.
Estar só, portanto, não é o mesmo que ser abandonado.
A solidão verdadeira é aquela que nos devolve a nós mesmos, que nos obriga a olhar para dentro e a reconhecer que a vida, apesar da falta, continua pulsando.
É na solidão que o sujeito pode, enfim, deixar de buscar completude no outro e começar a se responsabilizar pelo próprio desejo.
A psicanálise não promete preencher o vazio — ela ensina a habitar o vazio sem desespero.
Porque o vazio não é ausência de vida: é o lugar onde o novo pode nascer.




