Os transtornos alimentares, como a anorexia e a bulimia, não se reduzem a questões de alimentação ou estética. Sob a ótica psicanalítica, eles expressam conflitos inconscientes que se manifestam no corpo, transformando-o em palco de sofrimento psíquico.
Na anorexia, o sujeito parece buscar, pela recusa ao alimento, uma tentativa de dominar o corpo, como se pudesse, pela força da vontade, negar necessidades vitais. Mais do que um desejo de magreza, trata-se de um embate contra a dependência e contra o desejo do outro. É como se o “não comer” fosse um grito silencioso de autonomia e, ao mesmo tempo, de desamparo.
Na bulimia, a compulsão alimentar e a purgação subsequente revelam um ciclo de excesso e culpa. O alimento, ora buscado como satisfação imediata, ora rejeitado com violência, representa a oscilação entre prazer e punição. O sujeito se encontra preso em uma dinâmica de gozo e autocastigo, mostrando a força do superego e a dificuldade em lidar com a falta.
A psicanálise nos convida a compreender que, por trás dessas manifestações, não está apenas o corpo, mas a história singular de cada sujeito: suas relações familiares, o lugar que ocupa no desejo do outro, as marcas do inconsciente. Ao tratar da anorexia e da bulimia, não falamos apenas de distúrbios alimentares, mas de modos de existência atravessados pela angústia, pelo desejo e pela culpa.
A clínica psicanalítica oferece um espaço de escuta em que o sujeito pode ressignificar sua relação com o corpo e com o desejo, abrindo a possibilidade de que a palavra substitua o sintoma.




