Dando prosseguimento à nossa série sobre os mecanismos de defesa, hoje falaremos sobre a negação — talvez um dos mais conhecidos e, ao mesmo tempo, um dos mais sutis modos de o inconsciente nos proteger.
A negação acontece quando a mente se recusa a reconhecer uma realidade dolorosa, um sentimento difícil ou uma perda que ainda não pode ser elaborada. É como se disséssemos internamente: “isso não está acontecendo comigo” ou “não é bem assim”.
Freud descreveu a negação como uma tentativa do ego de manter o equilíbrio diante de algo que ameaça romper a estabilidade psíquica. Por isso, embora pareça uma fuga da realidade, ela cumpre uma função: preservar o sujeito até que ele esteja pronto para enfrentar o que realmente está em jogo.
Exemplos do cotidiano
A negação aparece em várias situações:
• Quando alguém recebe um diagnóstico médico grave e insiste: “os exames devem estar errados”;
• Quando uma pessoa é abandonada por quem ama e diz: “ele só está confuso, já vai voltar”;
• Ou quando alguém, diante de um vício, afirma: “eu paro quando quiser”, mesmo repetindo o comportamento.
Essas frases, tão comuns, expressam um esforço inconsciente de afastar a dor, a perda ou o medo que aquela verdade poderia causar. No entanto, quando a negação se prolonga demais, ela impede o sujeito de elaborar o sofrimento e seguir adiante.
A função protetora e o limite
No início de um processo de luto, por exemplo, negar a perda pode ser necessário. É um tempo psíquico em que o sujeito se protege do impacto da realidade. Mas permanecer preso à negação é permanecer preso ao passado, impedindo o trabalho do luto e o reencontro com a vida.
Reconhecer a negação — sem julgá-la — é o primeiro passo para transformá-la. É nesse momento que a escuta analítica se torna fundamental, pois ela ajuda o sujeito a dar lugar ao que antes era impossível de ser dito.




