Episódio 1 – A Transferência: Quando Revivemos o Passado no Presente
Série “Mecanismos de Defesa do Ego”
Você já teve a sensação de reagir a alguém como se fosse outra pessoa da sua vida?
Ou de sentir uma raiva, uma admiração ou um afeto intensos, que parecem maiores do que a situação atual justifica?
Pois é exatamente nesse ponto que começa o tema de hoje: a transferência.
Este texto inaugura uma nova série sobre os mecanismos de defesa, que são estratégias inconscientes criadas pela mente para lidar com conflitos, angústias e emoções difíceis.
Freud chamou de “mecanismos de defesa do ego” as formas que o nosso psiquismo encontra para nos proteger do sofrimento — e todos nós, sem exceção, utilizamos esses mecanismos, ainda que sem perceber.
O que é a transferência?
A transferência é um desses mecanismos e acontece quando sentimentos, desejos e expectativas antigos são deslocados para pessoas atuais.
Em outras palavras, revivemos no presente as emoções do passado, mas direcionadas a alguém diferente.
Na psicanálise, isso se manifesta com frequência na relação entre o paciente e o analista.
Durante o processo terapêutico, o paciente pode projetar no analista sentimentos que originalmente pertencem a figuras importantes de sua infância — como pais, irmãos, professores, ou cuidadores.
Pode vê-lo como alguém acolhedor, exigente, protetor, crítico, distante…
Essas percepções não dizem respeito exatamente ao analista, mas às experiências emocionais que ficaram registradas no inconsciente.
Por que isso acontece?
O inconsciente não distingue o tempo passado do presente.
Ele funciona como se tudo ainda estivesse acontecendo.
Então, quando encontramos uma pessoa que, de algum modo, ativa uma lembrança emocional, o psiquismo “reage” como reagia antes.
É como se o inconsciente dissesse: “Ah, eu já conheço esse tipo de relação” — e automaticamente repete o mesmo roteiro emocional.
Na vida cotidiana, a transferência também aparece:
quando nos sentimos “injustiçados” por um chefe como éramos por um dos pais,
ou quando idealizamos um parceiro que nos lembra o primeiro amor.
A repetição não é coincidência — é expressão do inconsciente em ação.
O valor da transferência na psicanálise
Na clínica psicanalítica, a transferência não é vista como um erro, e sim como uma oportunidade de cura.
É através dela que o sujeito revive suas relações afetivas dentro do espaço analítico, podendo reconhecer padrões inconscientes e, finalmente, transformá-los.
O analista, ao escutar e interpretar esses movimentos, ajuda o paciente a perceber o que está sendo repetido e a dar um novo significado a essas experiências.
Assim, o que antes era uma defesa inconsciente passa a ser um caminho de autoconhecimento e liberdade psíquica.
Nos próximos textos…
Ao longo desta série, vou falar sobre outros mecanismos de defesa, como a repressão, a projeção, a formação reativa, a racionalização, entre outros — sempre de forma leve, compreensível e com exemplos do nosso dia a dia.
Se você gosta de compreender o funcionamento da mente humana e deseja se conhecer melhor, acompanhe os próximos capítulos dessa jornada psicanalítica.




